domingo, 29 de janeiro de 2012

Antropologia da Ganância Aplicada a Formiformes

No meu período de veraneio em Itapoá resolvi fazer um experimento antropológico, só que ao invés de humanos usei formigas. Com cérebros simples e com os sentidos baseados na troca de informações entre umas e outras, formigas são um modo de entender os humanos sem todo o desafio moral de convencer um humano...
O experimento foi o seguinte: Na casa de meu amigo Manubael havia uma mureta baixa e na frente uma arvore de sombreiro. Peguei uma daquelas sementonas do sombreiro, cortei em 6 partes e deixei encima do muro.
Em cinco horas já havia se formado uma trilha de formigas que corria o muro verticalmente. A semente, feita basicamente de celulose, era de difícil digestão para as formigas e por esse motivo elas se agrupavam, cortavam, carregavam e sintetizavam com tanta insistência aquela semente. Elas sabiam que conseguiriam transforma-la em algo útil, digerível e de proveito tanto da colônia quanto delas mesmas.
Mas repente resolvi por minha teoria a prova. Tirei as sementes e as substitui por açúcar. Sacarose semi-pura e prontinha pra digestão. Em dois toques as formigas param, estatizadas. O Maná da Divindade dos Insetos Apócritas estava lá! O Soma. A Solução MÁGICA dos problemas individuais de sobrevivência.
Em 15 minutos a comunicação bioquímica das formigas havia cessado e elas se aglomeravam aos montes encima da pilha de açúcar. Porém a mudança mais sensível foi o término da fila! Aquela fila comprida, focada e funcional havia desaparecido por completo!
Moral da História:  As formigas agem como os seres humanos. Ao verem um desafio natural, se reúnem e tentam molda-lo da forma mais útil possível. Mas ao chegar uma força artificial capaz de pseudo-solucionar tudo o projeto original e o rumo natural são quebrados. A Fila se desmancha e os espíritos se corrompem. A riqueza, o poder e a ostentação fazem a mesma coisa com o bicho-homem...
Tenho medo de minha própria espécie...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Summer '12

Estava lá eu, enfastiado e meio sem saco na Ilha do Desterro. Havia um tempo em que eu estava me programando, mas era demanhã cedo e meu ônibus em 45 minutos estaria saindo em direção a Vila da União (aquele antro de germânicos mal-encarados). Entrei no ônibus, e começou a tocar Arcade Fire no MP-Coiso que eu tinha pego emprestado da minha mãe. Dado um tempo o ônibus parou numa cidadezinha nas proximidades, e entrou um senhorzinho manco e se sentou do meu lado. Como que por mágica começamos a conversar.
Ele era ex-ferroviário, estava indo visitar parentes em CuriCity, era evangélico, porém incrivelmente simpático. Conversamos sobre a geografia da região, algumas coisas relacionadas e religiosidade, comentou sobre o quão a juventude de hoje é unida, e como o senso de camaradagem hoje aparentemente aumentou muito. Não soube o que dizer, só conheço o agora, não tive a honra da experiência de viver no tempo dele...
O ônibus parou na Vila da União, me despedi do senhor.
Num pulo já saltei num ônibus para Garuva, onde minha carona estaria. A viajem para lá foi tranquila e sem nada de interessante.
Chego em Garuva, e lá estava Manubael, sua mãe e seu irmão mais novo! Manubael, o maior expoente da filosofia psiquiátrica de Curitiba, ex-percursionista d'Os Incapazes e grande companheiro. E que, nesse momento, cedia hospitalidade em sua casa de veraneio para minha pessoa!
Entramos no carro coreano maluco da mãe dele e fomos para a casa dele em Itapoá! Que casa linda era aquela casa! Manubael é um garoto de posses, filho de um grande comerciante do Parolin!
No primeiro dia vadeamos, o mar estava revolto. A noite pegamos a cadeiras e tiver altas piras e siderações na praia sobre aquele magnífico céu noturno Itapoaense! Tivemos o princípio de uma experiência transcendental e até vimos um disco voador!
Segundo dia foi mais divertido, entrei  no mar para matar a saudade. Saímos para dar uma volta naquele carro coreano da mãe dele, estávamos de óculos escuros ouvindo raps bizarros selecionados por Manubael. As pessoas olhavam. Eramos dois gigolôs ricos pirando e ostentando inutilidade. Foi engraçado, realmente. Ao final desse dia bizarro a garota do Manubael, uma alemoinha muito simpática, original da Vila da União apareceu em Itapoá, para alegria e delírio de meu camarada! Além disso, ao final da noite vimos Pulp Fiction.
Nos dias que se passaram a música correu solta. Portugal. The Man, Pink Floyd, Móveis, Stones, Fleet Foxes, Florence & The Machine e muito mais, até roubamos um uísque 12 anos do irmão mais velho playboy do Manubael. Foi realmente um achado aquele radinho USB e aquela garrafa perdida!
Eu e Manubael corríamos Itapoá como dois malucos! Eramos uma dupla bizarra. O Leão e o Abutre! O Leão, grande, forte, nobre, simpático, fleumático, capaz de convencer até o mais desconfiado dos corações e o Abutre, magricelo, torto, com longas e emaranhadas penas pretas pulando de um lado pro outro, gritando, rindo exageradamente. Eramos a dupla perfeita, capaz de discutir eruditamente até o mais fútil dos assuntos!
A viajem se aproximava do final. Estava lendo Dostoiévski e Kerouac. Começava a sentir saudades de casa. Puxamos assunto com as vizinhas do lado. Eram três garotas muito simpáticas, porém meio burrinhas. Eram engraçadas, foi legal conversar com elas.
Era sábado, meu ultimo dia lá. Comprei as passagens para Garuva. Joguei Zelda com o irmão caçula dele! O tempo rolou e o sol apareceu. Resolvemos ir na praia pela ultima vez. Entrei no mar. Nadei fundo. Fui pego por uma corrente! Apesar de nadar com destreza, fiquei preso, céus!!! Comecei a nadar para frente, com boa parte de minhas forças. Não saia do lugar!!! Tentei ver a profundidade, era fundo demais! Continuei nadando, e parecia que o tempo tinha parado! Era só eu, fazendo um esforço inútil para me livrar dos cabelos de Sedna e dos braços de Poseidon! O Mar ia me engolir, minhas carnes seriam diluídas no iodo do Oceano Atlântico! Força Vítor, tu consegue. "O mais importante não é ser forte, mas sim se sentir forte!", McCandless já falava! Nadei mais, pude sentir a areia sobre meus pés! Conseguia caminhar, mas cada onda que vinha me derrubava como se eu fosse um pequeno inseto! Mas consegui me arrastar até terra firme!!! Cai deitado da areia! Estava vivo!!! E, apartir deste dia, decidi nunca mais enfrentar o Mar despreparado!
Dormi como uma criança nesse dia.
Era domingo, tinha que pegar a estrada. Lá estava eu, mochila e violão nas costas (foi a primeira vez que levei violão em mochiladas...) entrando em um ônibus para Garuva. Cheguei em Garuva as 13:30, e teria que esperar lá até as 17:10... Estava chovendo lá. Fui no banheiro, bebi água, conversei com dois andarilhos e dei uns trocados para eles. Resolvi subir um morrinho que tinha por lá. Subi e peguei uma pedra, que hoje guardo como troféu!
O ônibus atrasou um BOM tempo. Só chegou 17:40! A viajem foi tranquila. Cheguei novamente na Vila da União. Fui correndo no guichê da viação para entrar no primeiro ônibus para Ilha do Desterro, e meu pedido foi atendido. Meu ônibus sairia as 19:10. Resolvi explorar aquela cidade, terceira maior do Sul do Brasil. Estava com fome! Achei um bar de alemães a umas 3 quadras da rodoviária. Consegui comer uma paçoca de amendoim incrivelmente substanciosa por apenas 50 centavos!!!
Meu ônibus saiu. O problema é que era um pinga-pinga! Tudo quanto buraco semi-urbanizado que passava o ônibus parava. A viajem foi cansativa, eu estava cansado. A viajem foi longa, senti a mesma sensação de eternidade sofrida e interminável que eu tinha sentido no meu princípio de afogamento! Minha mochila cheirava a mar e peixe, meu cabelo já tinha gosto de sal, minha barba coçava, minhas unhas estavam sujas e enormes, tinha areia no pescoço e atrás das orelhas!
Cheguei em Florianópolis as 22:00 e alguma coisa!!! A viajem que, de carro, demoraria 3 horas se transformou numa epopéia de 10 horas!  Estava cansado, mas em casa.
Tomei um banho, coloquei a mochila para arejar, fiz a barba e cortei as unhas e me preparei um pão com ovo.
Estava devolta em casa depois do mais louca veraneada da minha infante vida

(Ôô seu moço, do disco voador, me leve com você, pra onde você foooooooor) -Raulzito