domingo, 29 de abril de 2012

Curitiba em Janeiro- Parte VI (Maná dos Deuses Astronautas)

(...)

Acordei de susto com uma mensagem no celular!
Caralho, eu capotei e acordei agora! Nem senti o sono. E o sol já entrava forte pelas janelas!
Parecia que eu tinha mastigado um chinelo! Li e mensagem. Era do Messias
"Cara, me encontra na frente da empresa as 11:45."
Tinha que almoçar com ele... Ia ser a refeição sagrada pra viajem de volta! 
Eram 09:00... Resolvi dormir denovo...
10:40!!! 
Acordei desesperado! Os guris tavam dormindo no outro sofá! Me mexi rápido. Peguei minhas coisas. Me despedi de Isaac e Marvinícuis. Avisei que talvez aparecesse no apartamento dele depois. 
Saí correndo até chegar ao longo da longínqua Brigadeiro Franco!
Mal tinha acordado, nem tinha comido, agora ia almoçar. Essas rotinas em época de férias fazem mal pra cabeça de qualquer um... Andando meio perdido um cara me parou na rua. Fez um discurso bonito, falando sobre a demissão dele e me pediu comida... Virei minha mochila e dei minhas duas ultimas barrinhas de cereal. Acho que fiz a boa-ação do dia...
Continuei seguindo pela Brigadeiro. Passei o centro comercial, passei o super-mercado, passei a Kennedy. Ta lá o Messias! Apressei um pouquinho o passo e alcancei ele.
Fase do Refinamento: Onde vamos almoçar hoje?
Entramos num restaurante e quilo passando a Kennedy. Sentamos numa mesa, fomos nos servir.
Eu estava faminto! Cinco dias sem comer descentemente, vivendo de lanches e comida da mochila. No buffet servi um prato de estivador ou de pedreiro! Não lembro o peso que apareceu na balança, só lembro de ter pego tanta comida q fui passado pro buffet livre! Aí sim!!! Daí comi feito um frade, comi feito um rei, comi feito um porco, comi feito um filho-da-puta!!!
Tirei meu estômago da miséria. Certeza que emagreci uns bons quilos nessa viajem... Messias até se assustou com minha voracidade. Foi um momento reconfortante e alegre. No caixa dei o meu ultimo dinheiro trocado. Cash zero daqui pra frente. Minha viajem estava no fim. O ônibus ia sair daqui a duas horas.
Me despedi do Messias. Saí andandinho. Rodoviária não era tão longe assim, mas era uma caminhada...
Por abiogenes neuronial ou por pira mesmo, resolvi ir na casa do Marvinícius antes de sair! Mudei um pouco a rota e passei no apartamento dele. A vó dele ia chegar de viajem naquela tarde ainda. Conversamos rápido, uma última despedida. Ele disse que ia dar um jeito de passar um tempo lá na Ilha do Desterro. Ele me deu um pacote de bolachas e uma garrafa d'água. Me despedi com um abraço forte e seguí até a rodiviária sozinho.
Andando até lá olhei um muro na metade do caminho. Tinha pixado lá a frase "que a força esteja contigo"!!! Que animo que aquela frase diretamente aliterada do Star Wars me deu uma alegria gigantesca.
Cheguei na rodoviária. Plataforma interestadual. Desta vez não me atrasei.
O ônibus saiu. Tirei o On the Road da mochila, ia terminar ele no ônibus! A viajem seguiu, e parecia que eu tava num vórtice temporal, seilá. O tempo não passava. Podia passar minha vida inteira lá, lendo, bebendo água e comendo as bolachas de Maná sagrado que nunca acabariam!
Me perdi nas distâncias, não vi as cidades, morros e fronteiras e linhas imaginárias que dividem a terra em pedaços. A viajem duraria para sempre...
O sol caiu, estava nos últimos caítulos do On the Road. Sal Paradise já estava com febre no Mexico.
Já via as luzes subindo os morros da ilha. Já via a ponte. Desterro já se mostrava.
Voltei dessa viajem mais magro, mais feio, meu cabelo enroscado e a sola dos meus pés mais grossa.
Agora estava dentro da Ilha. Comi todas as bolachas que sobraram. Um banquete cerimonial. Sentei num banco da rodoviária. Terminei o On the Road...
Segui pra casa.
Agora era Desterro. Uma vida nova? Uma pira diferente?
Agora a rotina voltava. Preciso voltar pra CuriCity qualquer dia desses.



domingo, 15 de abril de 2012

Curitiba em Janeiro- Parte V (Igreja Mundial do Poder de Thor)

(...)

Eram umas 06:20, ou menos... Era cedo pra caralho... Messias me chuta na perna pra eu acordar. Me acordei, olhei pra cara dele e achei que ele tava me zoando, dormi denovo... Messias me chuta na perna pra eu acordar... Daí eu lembro que o vagabundo de férias lá sou eu, e não ele... Me levantei, arrumei as coisas que tinha tirado da mochila e só naquela hora lembrei que o Messias tinha que ir pro trabalho, e por isso tinha me acordado (Céus, eu tava muito zonzo...)
O pai do Messias dava carona pra ele até o serviço. Messias trabalhava como recepcionista e quebra-galho numa empresa de paredes de gesso, era um empreguinho sossegado, ficava sentado a tarde inteira atendendo telefone, fazendo cálculos e contas, lendo HQ e jogando num emulador de SNES no computador da firma.
Chegamos lá. Nos despedimos e agradecemos a carona. Messias destranca o portão da empresa. Puxa o pesado rolete de ferro até alto e mantém assim. Começava o serviço... Os chefes do Messias só chegariam as 09:30, eram 08:20, eu decidi ficar lá até 09:15, tinha combinado de encontrar FracoFranco no centro, iriamos almoçar juntos...
Zanzei pelos sofás do show-room da empresa. Preparei um café forte, conversei sobre aleatoriedades. Foi engraçado ver o Messias todo comprometido atendendo o telefone:
-"Thiago, DW, Boa dia."
A hora deu. Os patrões estavam chegando. O projeto mal-feito de mochileiro vagabundo tinha que sair de dentro do Escritório, do Templos da Labuta! Dei um forte abraço no Messias, disse que queria vê-lo no dia seguinte, fazer um almoço descente e recolher a toalha que eu tinha esquecido na casa dele!
Segui pela Comendador Franco, segui reto. A caminhada até o Centro era longa, longuíssima!!! O sol estava com a intensidade fosca comum das 09:00. A Comendador era uma imensidão amarelada, mas eu me sentia só... Olhei ao meu redor enquanto andava, nenhuma pessoa! Não existiam criaturas humanas naquela rua!!! Só haviam carros e cachorros. A rua era minha, o único bípede. Lembrei da Putinha do Orwell, lembrei de 1984, Winston era o Último Homem da Europa e eu o Último Moleque da Euro-América Lusófona!!!
Cheguei mais perto do centro e os subúrbios começavam a ficar mais densos. Estava denovo perto de onde eu morava... Estava realmente cansado...
Entro na região onde morava. Chegar no Centro agora era fácil e simples e, como diria Lemisnki, conhecia aquela parte da cidade como a palma da minha pica!!!
Depois de um caminhada cheguei na Comendador Araújo!
O Centro de CuriCity é um dos lugares mais lindos e estéticos que eu já conheci! Os restaurantes e pastelarias dos chineses, os praças com pombos e ônibus, as pessoas andando em direção aos seus empregos passando por perto dos postes que tentam imitar lampiões do século XIX! CuriCity é a concentração urbana que mais me encantou!
Caminho por aquele labirinto conhecido. Lembro de conversas com amigos, beijos errados, filosofia barata, quentão no Inverno com amigos, o panorama frio e nublado e ventante que aquela região me lembrava. Mas agora era verão, parecia bem mais normal. Nesse clima atravesso a praça Osório, a Boca do Brilho e resolvo sentar nos bancos do Calçadão da XV! O lugar mais lindo de Curitiba! Sentei, liguei pro FrancoFranco e tomei um chá em lata que tinha guardado na mochila! Esse momento de introspeção tonta sob o sol ficará na minha cabeça pra sempre!
Estava combinado, encontraria FracoFranco na livraria do Shopping Curitiba e daí iriamos pro Montanha!!! A mochila estava pesada, e eu não sabia onde ir dormir essa noite!!! Resolvi voltar pro Água Verde e pirar no Shopping Curitiba antes do FracoFranco chegar! Fui numa das livrarias, fiquei lendo e vendo as piras que nunca poderia comprar e também liguei pra minha mãe, avisar que amanhã já estaria devolta em casa e que estava bem!
Nesse meio-tempo resolvi dar um abraço no Marvinícus! Não via ele dês da festa do sábado! Caminhei um tanto e cheguei no apartamento dele, o Antigo Eixo!!! Bons tempos de lego, Dead Space, música e pira!!!
Entro no prédio (o porteiro ainda se lembrava de mim!!!) e subo o elevador. Encontro ele recém acordado, ouvindo música no computador! Deixei minha mochila e minhas sacolas lá e me sento semi-exausto no chão do quarto dele. Pra relembrar os velhos tempos ficamos lá, falando sobre vida alheia, tocando violão e bandolim. O Eixo podia estar vivo...
Combinei com ele, iriamos nós dois dormir na casa do Isaac Rhovanion (Tenho Dívidas). Tive que sair encontrar FracoFranco. Abracei Marvinícius e disse que depois viria buscar minhas coisas.
Encontrei FracoFranco na livraria. Decidi sacrificar uma parte do meu dinheiro pra comprar um livro (Alice no País das Maravilhas). Seguímos nós dois andando sobre o sol de meio-dia da 7 de Setembro, matando as saudades dos velhos tempo!
Chegamos no Lendário Montanha! A lanchonete azul oriental de esquina que tanto nos salvou da fome do estômago e do frio da solidão! Pedimos os clássicos pro senhor oriental do balcão! Genial a ideia daquele velhinho do Nirrôn de abrir aquele lugar! Comemos discutindo aleatoriedades, falando sobre nossos fracassos com garotas (FracoFranco era tão azarado quanto eu, haha). Quanta alegria e pira naquele balcão estreito! Comendo o Xis-pastel e tomando gasosa, foi um almoço lindo, como a tempo eu não tinha!!!
Tinha combinado de encontrar João, Yurie Oda e Golias Macedo (Outro Gigante Amável) na praça Oswaldo Cruz, arrastei FracoFranco pra lá. Porém antes fomos na casa do Salvatore Garibladi (Uma Napa de Respeito).
Descemos a rua onde eu morava, Salvatore era praticamente meu vizinho. Subimos no apartamento e ele atendeu a porta com o irmãozinho mais novo no colo, um bilisqueta de um aninho e pouco. Depois sentamos no quarto dele. Salvatore era um nerdão dos computadores! Um homem das máquinas e das ciências exatas, jogava RPGs online. Foi uma alegria conversar nerdice e aleatoriedade com aquele cara que foi meu amparo e companhia em tantas decidas de rua depois da aula!!! Ficamos lá nos três sentados discutindo sobre Portal 2 e Final Fantasy. Mas o tempo era curto! João, Yurie e Golias nos esperavam... Arrastei FracoFranco junto comigo e me despedi de Salvatore com um grande abraço!
Foi um momento realmente divertido. Um revival das sextas-ferias sempre fodas com o João e os brothers metaleiros dele na Praça Oswaldo Cruz!!! Não tinha coca, não tinha comida, tinha só a gente pirando, falando mal de bandas comerciais, comentando literatura e filmes e deixando a tarde passar!
O sol começou a descer, Yurie com aquele sorrisinho oriental se despediu, Golias também entrou num ônibus e foi pra casa dele. Ficamos eu, João e FracoFranco sentados. Achamos um jornal duma igreja evangélica maluca e começamos a ler os "milagres" em voz alta, em som de troça! Foi uma cena linda e antológica!!!
Encontramos Marvinícius e Isaac. João e FracoFranco entraram nos ônibus e voltaram a suas casas.
Encontramos Rei Felipe e fomos com os amigos dele num restaurante árabe. Meu dinheiro estava curtíssimo e por isso resolvi não comer nada. As luzes da cidade já estavam acessas. Voltamos pra praça Oswaldo Cruz. Estar com os amigos do Rei Felipe era diferente de estar com os amigos do João, era um pessoal mais velho que eu, mais maduro e menos receptivo a moleques xaropes tipo eu...
O tempo passou, fui na casa do Marvinícius pegar minha mochila. Nos juntamos a Isaac e fomos até o apartamento dele. Subimos o elevador daquele prédio típico da avenida Iguaçu, entramos na porta deschaveada da cozinha. Era um apartamento meio sombrio, cheio de quadros antigos, tapetes grossos, fotos de ancestrais da família... O pai dele nos olhou com antipatia, pediu pra não destruirmos a casa, e foi dormir...
Ficamos nós três na sala. Roubei uma banana na cozinha (estava morrendo de fome...) e Isaac tentou organizar uma mesa de RPG. Não deu certo... Isaac era um péssimo narrador, eramos poucas pessoas. (Em Los Infiernos as mesas de RPG eram muito fodas...). Resolvemos ligar o video-game. Joguei um pouco de BioShock, me dentei num dos sofás. Pesquei.
Pesquei.
Cochilei.
Dormir
pesadamente...

(...)