segunda-feira, 28 de maio de 2012

Porque Desisti de Você

Desisti, essa é a palavra. Sangue de barata. Ratos, baratas, urubus e outros zoomorfismos da ideia de covardia. Pela falta de coragem o urubu come carniça, já diriam os velhos!
Um ano de solidão. Vivi a embriaguez daninha e o sonho de febre, provações ridículas para alguém normal, mas pesadíssimas para um guri de ensino médio. E eu te conheci depois da estrada!
Um ano sem urbes amadas. Volto para Curitiba num feriado pra relembrar os velhos tempos. E te conheci...
Voltei pro meu exílio, meu desterro, com tu na memória! Como num filme ruim, mantive contato contigo, e tudo parecia ser promissor! Sonho de febre! Por duas semanas, hoje desisti...
Neste exílios atenuados criei uma ideia errada. Larguei mão dos amores vãos. Não pergunte a mim sobre histórias de amor, é inócuo, improfícuo em suma, não sou capaz de amar mulher alguma e provavelmente não há mulher capaz de amar-me, Augusto dos Anjos falou alguma coisa desse gênero... Achei que a soedade me traria sobriedade, não trouxe. Mas me acostumei com essa ideia, fiquei relativamente confortável. Só um motivo me faria sair dessa zona de conforto maluca...
Em horas de pira criei uma imagem mental. Uma guria inteligentíssima, uma paisagem de inverno curitibana. Ela era sossegada, leve, sem pressões malucas e protecionistas de um relacionamento-padrão, só a presença e a companhia bastaria. Estaríamos nós dois sentados (Praça do Japão, provavelmente) falando sobre arte, desenhos, música. Fleet Foxes!!
Daí te encontrei, e vi em ti a personificação dessa imagem. Leve, doce, simpatiquíssima. Nossos planos rimavam, rima rica ainda! Ai, que erro. Me vi preso de novo em musas laureadas e platonismos adolescentes... A guria sutil-artista-que-escuta-Fleet-Foxes...
Mas o inesperado! Um amigo meu te ama! Daí me vi numa competição. Me senti mal por isso, profundamente mal. Odiaria entrar numa justa pela mão de uma donzela (exemplo ridículo)... Ainda mais se essa justa for com um grande amigo meu...
A guria que escutaria Fleet Foxes comigo num dia frio não existe. A guria que dividiria o apartamento poleiro-urbano comigo não existe. A namorada não-psicótica e não-ciumenta
Desisti, esse é o ponto. Não vai ser de um dia pro outro que o Urubu vai virar Leão! Mais fácil seguir minha vida quieto... Tou em outra cidade mesmo... Ver os dois felizes juntos vai ser bom... Vou ficar feliz com ela feliz... Assim eu não atrapalho ninguém... Isso tudo são mentiras, mas acalmam meu coração.
Colocar uma razão moral, assim pareço até um asceta... Buscar purificação pela dor! Tou cuspindo na cara do Nitchê mesmo! Essa é a situação mesmo...
O Urubu continua sentado no poleiro vendo a vida dos outros acontecer. Quando se sente sozinho, o Urubu desce pra gritar no ouvido de alguém. O Urubu nunca vai ser Leão!

En temps de guerre est le vautour de poulet...


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os Poetas Necromantes e Outras Pessoas que Conheci em Maringá

Maringá é uma cidade errada... Uma vila perdida num descampado na beira do Trópico e que, na cagada, virou a terceira maior cidade do Paraná! Lá o calor é quase sempre constante, em dias úmidos a neblina é pesada e tu não consegue enxergar um palmo na frente do nariz e a cidade toda parece ter surgido do nada e colocada lá artificialmente. Não é um lugar onde eu voltaria a morar...
Porém Maringá me reservou surpresas agradabilíssimas. Lá conheci uma meia-duzia de pessoas que literalmente salvaram minha vida e minha sanidade! Vou citar brevemente duas e profundamente outras duas.
Lorelai era uma menina doce e inteligentíssima. Pelo colégio (um colégio marista típico, retratos de Marcelino Champanhat e corredores velhos) falavam que nos dois eramos fisicamente muito semelhantes, coisa que eu nunca concordei plenamente. Hoje Lorelai tá em São Paulo, cursando moda... Outra pessoa que sempre me vem a memória é Júlia, filha de libaneses, era amiga da Lorelai... Faz um tempinho que não tenho notícias dela...
Mas, não adianta. Vou me aprofundar em duas pessoas que foram extremamente próximas! Uma era Varvara, com todo esse requinte eslavo e dostoévisko. Varvara era meio macho e preferia as mulheres. Varvara era mais macho do que eu!!! Ela viveu histórias complicadas e confundíveis, mas foi um ouvido aberto para a maioria das minhas piras erradas e memórias sentimentais! Cantávamos Raul, falávamos mal do funcionamento do colégio, das gurias aleatórias e da artificialidade daquele ambiente todo! Ela era de Cascavel...
Outro personagem que foi importantíssimo nessa minha passagem por Maringá foi um japa. Vou citar ele aqui somente pela alcunha de Japa. O Japa ouvia Pink Floyd e jogava BioShock e comecei a falar com ele no primeiro dia que pisei naquele colégio. O que houve foi a criação de uma mini-sociedade filosófica naquele colégio! A pira era sempre constante e errada, intercalando discussões sobre sociologia, análises de músicas e debates sobre Zelda!!! O Japa se criou em Brasília, e hoje mora com os avos e cursa o ensino médio em Maringá. Engraçado foi ver a troca significativa de filosofias que tivemos! O Japa me ensinou a amar a Estrada, a Viajem, a Liberdade e a Independência. Na mesma medida ensinei a ele o Cinema, a Pira Errada, o Desvairismo e todas essas correntes de fluído constante que só passam na cabeça de quem não pensa direito. Ao invés de absorver a serenidade oriental do cara, acabei passando pra ele a meu exagero latino...

Nas atuais condições:
-Lorelai: Mantenho contato ativo com ela. Planejo uma viajem para São Paulo pra ver ela denovo!
-Júlia: Sem notícias recentes...
-Varvara: Faz um bom tempo que não converso com ela, porém ela meu Augusto dos Anjos tá com ela e preciso reaver-lo!
-Japa: Atualmente o cara tá virando um poeta beatnik, um exemplo vivo de como mesclar arte erudita e pira errada!

Como pessoas maravilhosas assim foram surgir numa cidade tão horrível?