terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Grande Ironia

No laboratório de anatomia de uma universidade haviam vários e vários corpos, alguns inteiros, outros em pedaços. Os estudantes e professores já estavam acostumados com o cheiro do formol, dos aldeídos e com o frio dos refrigeradores.
Mas um corpo em particular chamava atenção. Era um cadáver aberto no abdome, com os intestinos pra fora. O tórax e os braços estavam intactos, dando pra ver várias tatuagens. Algumas tribais cobrindo os ombros, alguns símbolos aleatórios, mas uma dessas tatuagens surpreendia a todos...


No antebraço esquerdo do cadáver tinha uma frase escrita.
A frase era:
-"A Vida é Para os Fortes!"

domingo, 11 de novembro de 2012

O Faquir e o Samurai ou Memórias que Eu Tenho do Japonês Matsunaga No Período em que Ele Ficou em Florianópolis

I- Os dois andavam juntos pela praia do Campeche. Cruzaram toda Florianópolis para isso. Tinham nas costas mochilas e apetrechos para chimarrão. Começando a caminhar pela praia eu comecei a procurar conchas, e ele continuava andando, sempre andando para frente. Numa hora Matsunaga apontou pra dois morros no fundo da praia e falou "A gente vai para lá!!". E lá fomos nós dois. Ele lá, cara forte e resignada de oriental, sem camisa, mostrando o corpo robusto, o olhar obstinado por trás dos óculos mirando fortemente o ponto que devia ser alcançado. Eu lá, os cabelos compridos voando para trás, camisa do Jethro Tull branca, óculos escuros e olhando para baixo, de mochila e chimarrão nas costas, pernas magras, olhando para baixo, procurando conchas. Num momento começamos a perceber que o tal do morro estava longe, muito longe, mas continuamos andando. Aquilo era uma missão, aquilo era uma purificação para nós dois! Caminhar enobrece a alma, ainda mais junto de boa companhia! Um rato-de-praia abordou a gente perguntando se tinhamos isqueiro, a gente não tinha, mas em compensação conseguimos saber com ele o que é que tinha perto dos tais morros, era outra praia!
Ao sabermos da notícia relaxamos. Subimos nas dunas em meio à vegetação acucífoliada e maluca comum de dunas de praia e soltamos a mochila lá, entramos no mar. Entramos naquele mar gelado, aquilo sim era purificação! Um banho de água fria depois de uma longínqua caminhada, que satisfação, que alegria!!! Ao sair da água voltamos pras dunas, tirei uma garrafa de cachaça de dentro da mochila e tomamos uns tragos pra cortar a friagem, também foi montado o Chimarrão Sagrado da Praia que também esquentou nossas vísceras, como é bom ser gaúcho. Arrumamos a mochila, seguimos a caminhada, os morros estavam próximos, jogamos a garrafa no mar em homenagem a algum parente que morreu no mar! Chegamos na outra praia, a praia dos morros, a praia da Joaquina. Subimos parte do morro, assustamos gaivotas e pegamos um ônibus para voltar pro centro da Ilha. O importante é o trajeto e não o objetivo, ainda mais em boa companhia!

II- Os dois estavam sentados na Praça XV depois de caminharem por todo o centro de Florianópolis vendo barcos e mercados de peixe. Matsunaga sentou num dos bancos na frente da figueira e eu fiquei explicando pra ele a história da cidade e o porque dela ter nome de Ditador! Foi um momento bacana de discussão aleatória, falando sobre música, livros, videogames e essas coisas. Daí eis que passa uma garota ruiva, branquela, de saia vermelha florida e linda, linda, linda! Eu e Matsunaga instintivamente seguimos ela com os olhos e, quando percebemos que nós dois estavamos de pescoço torto, e rimos muito da situação. No meio da risada Matsunaga olhou pra baixo e falou, segurando o riso: "Saudades da namorada que eu não tenho!"

III- Faltava um dia pra Matsunaga voltar pra Terra dos Pé Vermelho e nós dois estavamos no quarto jogando videogame e lendo textos um do outro. Pergunto pra ele o que ele achava da minha ultima postagem. Ele disse: "Tá bem escrita, mas eu não gostei". Ele gostou, no fundo no fundo ele gostou. Acho que ele não gostou de ver eu me destruindo daquela maneira em cada postagem, em cada texto.
Passados dois dias da volta dele para sua triste cidade, interpretei uma coisa! Interpretei que: "Meu blog é um ciclo finito e destrutivo de auto-depreciação e auto-piedade!"

(MatsunagaBoy, meu caro, perdões por ter imitado teu modo de escrever nesse texto!)

(Post Escriptvn: Segundo informações do próprio Lucas Matsunaga, andamos aproximadamente 8,2 quilometros entre as praias do Campeche e Joaquina)

domingo, 4 de novembro de 2012

O Olho Roxo

O velho e barbudo Lord Darwin, depois de cruzar o mundo de carona em um navio, elaborou uma teoria interessante. Essa teoria diz que os seres vivos mais úteis pra espécie sobrevivem, enquanto os menos aptos estão condenados a uma vida de danação e possível extinção.

Certa manhã me olhei no espelho e um olho roxo. Um hematoma muito aparente embaixo no meu olho esquerdo. Não foi consequência de briga, de explosão de raiva ou qualquer coisa do gênero. O hematoma foi decorrente da mais pura babaquisse. Na noite anterior estava tentando tirar uma musica no baixo, levantei ele para tirar do colo e bati com ele na minha cara. Babaquisse pura, eu sendo único culpado pelo fato ocorrido.
Demanhã eu semi-acordado olhei pra minha cara. Estou magro, sempre fui magro. Barba rala de moleque mal-crescida, cabelo comprido e desgranhado. Acordei fedendo, com bafo e com aquele PUTA olho roxo!

Eis que anos e anos inclinações niilistas e de conhecimentos de biologia me fizeram lembrar de duas teorias interessantes. Uma, escrita por um lorde inglês barbudo rico e metido a viajante falava que as espécies se desenvolvem porque os mais aptos sobrevivem. Outra, escrita por um alemão topetudo e bigodudo todo zoado que morreu virgem falava que nem sempre os indivíduos mais uteis pra sociedade eram os mais uteis pra espécie. O maluco da Alemanha falava que as pessoas mais explosivas, mais impulsivas e mais retardadas eram as que tinham mais filhos e, por isso, eram a coisa mais útil para a espécie.

Ser bestão é o que gera a felicidade. Essa foi a máxima que eu tirei.

Eis que me lembro da minha condição. Eis que me lembro que eu só como, durmo, leio e estudo. Eis que eu me lembro que eu não tenho namorada. Eis que eu me lembro que eu não tenho caso nenhum. Eis que me lembro que eu não trabalho nem tenho meu dinheiro nem tomo muitas decisões verdadeiramente importantes por conta própria! Eis que me lembro que eu idealizo tudo! Eis que me lembro que vivo de imaginar!!
Lembrei que eu sou inútil pra espécie.

Aí o lorde inglês barbudo vem no meu ouvido e fala: "A Natureza seleciona os mais aptos!". Olho no espelho. Lembro das costelas, do fedor, da barba feia, dos cabelos, do olho roxo. O olho roxo!! Eu me machuco sem perceber. É a vingança da biologia! Eu me machuco sozinho por ser inútil pra espécie! Eu sou niilista por ser inútil pra espécie. Eu idealizo o amor e o sexo por ser inútil pra espécie!

Mas estou bem, estou bem. O mundo já tem 7 bilhões de pessoas pra realizar a manutenção dos genes. A mim nada custa ficar de boa, respirar fundo e seguir a vida. Ouvir Arcade Fire, escrever, idealizar amores e sofrer por eles. Prefiro ser inútil pra espécie do que negar aquilo que eu acho certo.
Apesar de ganhar hematomas no processo...