terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As Paredes Falam

-"Andamos Muito Parados", diz um muro de Florianópolis

-"Porque não se revoltar se o grande prejudicado é VOCÊ?", diz o muro de um posto de saúde de Florianópolis

-"DEU$ NÃO EXISTE!", diz o muro de uma grande igreja no centro de Porto Alegre

-"Abaixo a Ditadura da Estética!", diz o muro de um salão de beleza em Curitiba

-"O Povo Unido Governa Sem Partido", diz um muro de Curitiba

-"Viva a Heroica Resistência do Povo Iraquiano!!", diz o muro das Escadarias da Borges, em Porto Alegre

-"Carne é Crime", diz o muro próximo a uma churrascaria em Curitiba

-"Fome é Foda", é o que diz o mesmo muro próximo da mesma churrascaria de Curitiba

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Pequena (Releitura por Vitor Mateus Rigotti)

(Segue aqui um projeto que eu nunca tinha tentado antes. Fiz a releitura de um texto já escrito! O texto original é de autoria da escritora e estudante paranaense Lorena Gonzales, e caso queiram comparar o link está aqui http://acerejadotopo.blogspot.com.br/2012_01_01_archive.html  )


-"Quero ir pra Floripa. Me leva pra lá?" -Foi isso que ela me disse logo no momento que acordou.
-"Levar pra onde?" - Foi o que eu respondi, sem prestar atenção.
-"Floripa, Florianópolis, capital de Santa Catarina, você sempre falou de lá, e todo mundo fala que lá é muito bonito! Quero conhecer, e quero ir com você!"
Ela me falou isso enquanto levantava da cama. Sentou-se nos lençóis, vestindo a parte de cima do meu pijama. Aquela visão me deixava maravilhado e eu me esqueci do que ia fazer.  Ela estava linda, ela era linda. Não conseguia acreditar como ela, tão bela, estaria junta de um velho como eu. Ela sempre acordava depois de mim.
-"Ai, que silêncio nesse quarto. Não é você que sempre diz que a casa só está viva quando tem música e blablabla?!"
-"Tu nem sabe o que que tem pra ouvir. Mas tá, vou pegar um CD aqui. Tem um do Cure, serve?"
-"Cure é aquela banda oitentista do cara dos cabelos zoados? Minha mãe ouvia isso, nossa. Pode ser!"
O baixo da The Kiss começou a estourar e eu me levantei para passar o café. Ao entrar na cozinha coloquei o café na cafeteira, bebi um martelinho de cachaça. Olhei pela porta e vi ela já de pé, olhando pela trigésima vez minha estante de livros. Perguntei de longe se ela queria café, ela respondeu que sim com um gesto, olhando vidrada aquela estante empoeirada.
Só uma vez ela acordou antes de mim. Foi horrível, estranho. Ela estava sentada na cadeira, me vendo acordar. Eu estava particularmente feio e amassado. Tentei ler a emoção que irradiava daqueles olhos verdes semi-cerrados, e entendi de primeira. Ela sentia pena! PENA!! Única explicação plausível para ela ter caído no papo de um velho fodido como eu.
Ela não era a mulher mais inteligente, nem a mais letrada, mas era sedenta por conhecer coisas novas. Era para eu ter medo disso, mas não. Justamente isso que me atraiu. Lembro perfeitamente de como conheci ela. Lembro de estar andando por uma livraria comprar seilá qual livro. Reparei que alguns livros meus estavam nas estantes principais. Do nada ela me parou no meio dos corredores da livraria e disse que adorava minhas obras. Nesse instante percebi que ela nunca tinha lido um livro meu, no minimo tinha lido alguma critica de algum blogueiro amador dizendo que eu era alguma espécie de Bukouski brasileiro ou alguma bobagem infundada dessas. Disse que se chamava Isabel e eu a convidei pra jantar.
O tempo passou e eu descobri que ela não se chamava Isabel. Também descobri que ela não tinha 26 anos e que não era formada em jornalismo. Ela era querida, ela era tudo o que eu precisava. A Vida tinha me ensinado a não confiar em relacionamento nenhum, e meu coração já está muito velho para essas coisas. Nós passávamos juntos as noites abafadas da segunda maior cidade do Paraná. Ela falava de todas as coisas bobas de mulher dela, falava da decoração decadente do meu apartamento, falava empolgada de filmes, falava mal das musicas que eu ouvia, falava dos livros na minha estante. Perguntava sobre a vida de cada um dos autores de das obras, pegava alguns emprestado as vezes.Ela falava demais, falava de tudo, apesar de muitas vezes eu demonstrar desinteresse. Falava empolgada da sua juventude em alguma cidade interiorana que eu nunca lembro o nome, falava dos seus sonhos da época de menina, falava dos sonhos da época de menina que ela já tinha realizado. Ela também falava que gostava do meu café.
Olhei ela de longe, lembrei dela passando as mãos pelos cabelos curtos pintados de vermelho. Adoro quando ela fazia isso, era uma cena digna de filme. Passei as mãos nos meus cabelos grisalhos só pra me lembrar da sensação daqueles finos dedos jovens acariciando minha cabeça despreocupadamente.
O café ficou pronto, levei uma xícara para ela. Ela estava sentada na minha cama, folheando um livro do Jack London, cantarolando a Just Like Heaven -"eu conheço essa música!", -ela me disse. Entreguei a xícara para ela na cama e fui beber meu café escorado na janela. Olhava o pouco movimento urbano de uma manhã de sábado, ai ai, a cidade, a cidade. Quando me levantei ela já não estava na cama, estava de pé com um dos meus livros na mão.
-"Quando que eu vou aparecer em um desses?" -Ela indagou com uma seriedade que ela nunca tinha demonstrado antes.
-"Como assim aparecer?! Não se faz coisa nenhuma forçada na literatura!" - Respondi surpreendido.
-"Tá certo, tá certo! Se eu não vou aparecer tão cedo, só quero te pedir uma coisa... Você consegue me ensinar a escrever?"
-"Ai garota, as coisas não funcionam assim! E tu sabe disso..."
Ela ficou quieta, olhando para baixo. Tive a terrível sensação de ter quebrado alguma coisa nela. Ela não falou comigo o dia inteiro, mas ficou no meu apartamento, comeu o almoço insosso que eu preparei. O dia todo ela ficou quieta e lendo aquele livro fino do Jack London que ela tinha pego da minha estante. Volta e meia me perguntava alguma coisa sobre ele "O cara que escreveu esse livro foi pro Alasca mesmo?", "Como que o cachorro sente as mesmas coisas que o dono que ele arranja no final?".

Ao cair da noite preparei um outro café. Dessa vez era ela quem estava escorada na janela. Eram umas 22 horas quando ela terminou de ler a ultima página do livro. Ela gentilmente o pôs de volta na estante, pegou a bolsa e calçou as sapatilhas. Andou até a sala e olhou profundamente para mim. Me senti atravessado por aqueles olho verdes. Os olhos dela nunca estiveram tão bonitos e tão hipnóticos. Me olhando de cima para baixo, ela me dirigiu a palavra:
-"Vou sair, talvez eu não volte!" -Ela falava com a mesma seriedade que tinha demonstrado de manhã.
-"Ai, ai. Sempre soube que ia escutar isso mais cedo ou mais tarde." -Nesse momento percebi que tinha perdido ela pra sempre....
Ela se aproximou lentamente de mim, olhou fundo nos meus olhos e me deu três beijos com a mais extrema ternura. Um na boca, um na mão esquerda e outro na mão direita. Eu estava sem reação. Ela andou em direção a porta e trocamos pequenos sorrisos. Antes de sair ela me falou por uma ultima vez:
-"Quero aparecer em um dos teus livros!! E, por favor, me chame de Isabel!". E fechou a porta.
Ela se foi, fazer o que. Assim que as coisas funcionam, não? Bem, mas eu só digo uma coisa. Nessa noite eu dormi na sala e não tranquei a porta...