terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O Tempo Não Vai Ajudar

Um brinde, amigos!!! Lhes proponho um brinde!
Brindemos em nome da nossa mediocridade! Brindemos em honra da nossa mediocridade enquanto estudantes, da nossa mediocridade enquanto acadêmicos, da nossa mediocridade enquanto escritores.
A muito tempo nós estamos aqui tentando dar o nosso melhor, porém somente no mundo das ideias ocorre esse esforço. Às favas com o mundo das ideias, às favas com essas baboseiras, e um forte viva aos nossos longos dias de mesmice.
Vamos repassar os roteiros e as falas, ensaiar bem as deixas, arrumar o cenário direitinho e assumir de ver o nosso papel nessa peça! Vamos fingir que nos esforçamos em nossos empregos, vamos fingir que gostamos da ideia de moral e dos bons costumes, vamos fingir que esse negócio de uma vida rotineira e regrada é o natural da espécie humana!
Vamos escrever páginas e páginas e páginas de ladainha inócua e sem graça, vamos escrever toneladas desse pão branco que só estufa e não alimenta! E vamos ganhar dinheiro, céus!!! Vamos ganhar dinheiro, muito dinheiro, e ser felizes com isso!
Vamos ignorar completamente essas coisas das artes e do espírito. Vamos escutar música medíocre, vamos afinar de novo nossos instrumentos e nos contentar com nossa mediocridade enquanto músicos. Vamos nos contentar com nossa mediocridade em relação à filosofia, em relação às coisas do espírito e da existência. Vamos parar de ter essa paranoia do cachorro correndo atrás do próprio rabo e vamos assumir que Deus é um velho barbudo que criou o mundo e as coisas e que só existe para punir os malditos e os impuros e dar a benção da mediocridade eterna a todos os dignos de tal!
Vamos ficar velhos, mas não aqueles velhos maduros, fortes e cheios de histórias e vitalidade. Não, vamos ser velho chatos e amargurados, querendo que o mundo nos dê nossa juventude de volta. Vamos ser velhos chatos e insuportáveis que só prestam para apurrinhar e família e os vizinhos.
E vamos tentar morrer da doença mais medíocre que a medicina for capaz de descrever!!!

Um brinde amigos, um brinde, e viremos este martelinho de cachaça e que nossa vida seja a mais inócua e sem-sal possível. E que essa ilusão seja entronizada e deglutida com o mesmo ardor dessa bebida!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Eu

Esses dias me encontrei andando na rua.
Eram onze e meia, meio dia, no centro da cidade, na Rua dos Andradas com o sol à pino. E lá estava eu saindo andando tranquilamente pelo calçadão...
Obviamente não compreendi de primeira, tive de forçar os olhos umas três vezes, mas não tinha como negar, era eu. Um pouquinho diferente, uma coisa que contra, mas definitivamente era eu.
Era engraçado, eu e o outro eu que estava caminhando na rua tínhamos algumas diferenças nítidas, a começar pela barba feita, pelo terno cinza justíssimo e o topete alto e ridículo que ele estava usando. Em que Universo eu estaria vestindo aquilo?!
No fim, depois de hesitar um pouco decidi ir tratar com aquele estranho que era eu. Interpelei-o na rua logo de frente e cumprimentei ele, e de imediato nos abraçamos fortemente como amigos que não se viam a muito tempo. Com certeza ele também sabia que ele era eu, e vice e versa.
Por ser próximo a hora do almoço, ele decidiu me convidar para almoçar num restaurante chinês que havia nas proximidades. Chegamos, nos servimos e conversamos e rimos a refeição toda. Em nenhum momento conversamos sobre essa coisa da identidade e tudo mais, nem eu nem ele estávamos dispostos a começar esse tipo de confusão na hora do almoço. Conversamos sobre os planos, sobre nossos empregos, ele perguntou como andava minha vida de professor de colégio, e eu perguntei como andava sua vida de advogado. É claro que sabíamos as profissões uns dos outros.
Mas tínhamos muito em comum, é claro. Rimos ao perceber que nenhum de nós se serviu de carne vermelha nem nada com cebola, e que tínhamos pego praticamente porções idênticas de comida. Conversamos sobre os amigos do passado, sobre as maluquísses da nossa juventude, sobre nossas paixões e anseios, sobre as mulheres que amamos e deixamos de amar. Conversamos sobre futebol, sobre literatura, sobre filmes de comédia pastelão. Conversamos todo tipo de amenidade que bons amigos conversariam depois de muito tempo sem se ver.
Por fim acabou o almoço, e ele estava atrasado para uma audiência no foro municipal, e eu atrasado para uma aula de química que teria que dar em um cursinho pré-vestibular. Saímos do restaurante e nos despedimos calorosamente, mas não combinamos de nos encontrar novamente. Melhor deixar essas coisas por conta do acaso, não?

Ao chegar de noite em casa, tomei um banho, descansei e jantei com minha esposa. Quando estávamos arrumando a cozinha contei pra ela do ocorrido, em um relato longo e rebuscado, digno para um evento tão raro. Ela ouvia quieta, e sua única reação era franzir a testa esporadicamente. Depois de finda a narrativa ela olhou fundo dentro dos meus olhos, com um ar metade seríssimo e metade enternecido e disse:
-"Amor, não leva a mal o que eu vou te falar, mas esquizofrênica não tem graça, tem é tratamento, isso sim!!!"

sábado, 4 de outubro de 2014

Japamala (I à IV)

Cada
conta
conta
como
um conto
caustico
caído
na calçada.

Cada
conta
conta
como
o cântico
caótico
das casas
das capitais

Cada
conta
conta
como
o Mantra
e o pária
e a praia
e o pântano

Cada
conta
conta
como
o vulto
a caminhada
as dores do coração
e mente e alma.

....

sábado, 16 de agosto de 2014

Os Filhos das Elites

As lágrimas escorrem pela borda branca do rosto
Do canto do olho até a ponta do queixo
levando dissolvidas nelas mágoas e maquiagem borrada.
A gota da lágrima saiu de olhos
que miram distantes a linha do horizonte.
A gota da lágrima escorreu a caiu
do rosto triste escorado na sacada.
A gota da lágrima caiu longa e rápida
do alto do parapeito da cobertura
do prédio mais bonito da cidade.

As cabeças conectadas às máquinas de distrair
As mãos atadas às máquinas de destruir

E o som fúnebre do ronco dos motores
E o murmúrio lúgubre das vidas sem amores.
Daqueles que não são nada além de atores
Interpretando debilmente estes horrores
e desonras e maldades e tristezas
Mantidas pelas ganâncias e avarezas
dos privilegiados cuja esperteza 
não os faz ver o óbvio
e o inevitável.

Mas os filhos das elites não tem culpa.
Eles vivem os dramas de seus mundos fabricados
Eles vêem o mundo aos seus pés
dos altos pináculos de suas coberturas.
Por um breve instante eles pensam 
que aquilo que todos falam
que o dinheiro não compra felicidade
era, sem sombra de dúvidas,
uma das mais gigantescas verdades.



segunda-feira, 23 de junho de 2014

Na Estrada Denovo, Parte I


Nada foge da normalidade.
Reduzir a velocidade dos sentimentos
só pra ver exposta tua fragilidade.


Contra sorte não tem preventivo.
Comprei convencional,
viajei de executivo.


Andar nas ruas não é nada.
Bonito mesmo é som do mar
e ver o sol nascer na estrada.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

03:53

Nada mais efêmero e transitório que a nossa ilusão sobre o que é e o que seria o hipotético "fundo do poço".
O fundo do poço não tem lugar, o poço não existe, e essa metáfora toda soa bem errada.

Se definirmos o "fundo do poço" como um adiantamento na nossa inevitável marcha de nascimento-convalescença-envelhecimento-morte, bom, então o tal do fundo do poço continua sendo bem evitável.

Mas e se definirmos como "fundo do poço" a quebra de algumas condições psicológicas (ou psicossomáticas, dependendo do caso), quebras que levariam a um adiantamento do perecimento do corpo? Bom, daí nos expandimos muito mais os horizontes e criamos um espectro muito mais amplo sobre o tal do "fundo do poço".

Ah, sejamos existencialistas por um instante e vamos parar com essa história toda. Vamos estabelecer o "fundo do poço" no nosso fim das atividades metabólicas, no fim das nossas efemérides heroicas e do fim de nossa vida carnal como um todo. Morrer é a hipótese de "fundo do poço" mais simples e abrangente, o resto é tudo bobagem.

E, bem, convenhamos, viver vivão e são das idéias e seguir firme e tranquilo até a velhice é um negócio que a nossa espécie está fazendo com maestria nesses últimos séculos. Sim, ainda tem muito o que melhorar, mas essa é uma discussão sobre nós enquanto indivíduos e não de nós enquanto espécie. Essa é uma discussão sobre como espantar os fantasmas destes possíveis "fundos do poço".

FUNDO DO POÇO
PROFUNDO
DOPOÇO
PROTEJO
TENTO
PREFIRO
REFIRO
SUSPIRO
SUSTENTO
SUSPENDO
LAPIDO
SER BRUTO
.
SOU FUNDO
NO
TUDO
QUE
POSSO.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Inemancipável

Mensch:
Chore pela tua solidão,
Cante para tua redenção.
Interdependetemente aflito
Ao perceber a natureza do conflito.

As tristezas fecham o arco

Individualidade é ilusão.
Buscamos aprovação
e estamos todos no mesmo barco.

Maschine:

Homo sapiens
Homo ludens
Homo electrum

Do machado a enxada

Do carinho ao moinho
Da espada a palavra
Dos seixos aos códigos
Dos espelhos ao espectros.
Sendo assim impertinente
Só digo estamos cada vez mais dependentes
Em absolutamente todos os aspectos.

Abschluss:

Humanos dependem de humanos e todos os humanos dependem de ferramentas. Poucos são os humanos que tem pleno domínio das ferramentas. Nenhum é o humano que não depende de outros humanos. E a gente não tem o menor controle sobre isso. A individualidade e a emancipação completa jamais se darão pela supressão do uso de ferramentas e pela exclusão do convívio social.




quarta-feira, 28 de maio de 2014

Rubião

III
Isso não vai mudar meus planos
pois só sei amar à moda dos parvos,
dos poetas
e das menininhas de quinze anos.

X
Napoleão III sai do Rio de Janeiro
Invade Minas Gerais
E leva junto com ele um Mundo inteiro.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Cartas secretas para uma amiga anônima

Hoje me deu saudade de ti.
Não só de ti, mas do contexto todo!
Abril foi o mês mais maluco da minha vida, e não por acaso ele começou por aí!
Olhar pra trás e lembrar de tudo, e praticamente não acreditar. Mais de mil quilômetros de estrada, mais de vinte horas de viagem. E lá estava eu, e lá estávamos nós, nos vendo cara a cara depois de mais de dois anos!
E São Paulo é uma loucura! Onde mais eu ia encontrar uma exposição com manuscritos do David Bowie, ou uma aglomeração de gente tão absurda, e uma arquitetura tão maluca (do belo ao extremo brega em menos de umas quadras)?
E quantas epifanias eu não senti nessa cidade que pressentiram acontecimentos futuros vindouros? E as peregrinações de ônibus e metrôs? E ir semi-de-ressaca comer pastel com caldo-de-cana na feira?
Não, não, tudo foi muito louco e muito fantástico.
Tudo está e estará guardado num cantinho muito especial no meu hipocampo.

Ah, e só pra concluir. Lembrando de quanto eramos adolescentes em Maringá, com longos cabelos cacheados e tênis de lona vermelha conversando sobre crises sentimentais no pátio de colégio. Será que esses dois adolescente em algum momento se imaginaram discutindo suas vidas acadêmicas bebendo cerveja num banco de buteco no meio da Augusta? Ai, ai, como é bom quando o script da vida surpreende!

                                                                                         
                                                                                   Com todo o amor do Mundo,
                                                                                   Teu amigo de longa data!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Homem Normal

Tem dias que eu acordo com vontade de ser um homem normal.
Camisa polo de marca, cabelo impecavelmente curto, barba sempre bem feita.
Tem dias que eu acordo com vontade de ser um homem normal. Beber cerveja no final de semana, fazer uma faculdade particular de algum curso como administração, ciências contábeis, relações públicas ou qualquer outras dessas coisas rentáveis que não exigem criatividade.
Tem dias que eu queria ter feito uma cirurgia depois de ter lesionado meu joelho jogando bola, ou de reclamar se o almoço não tinha carne. Vontade de não me preocupar com música, literatura, comportamento, filosofia, política e essas coisas. Vontade de conseguir dizer discursos em favor dos "direitos do cidadão de bem" e criticando o "assistencialismo público" da boca pra fora e na real não dar a menor bola pra isso.
Imagina então dar bola ao preço de uma roupa! De tentar comprar um carro, de tentar comprar perfumes. Sonhar em viver uma vida de jogador de futebol no exterior!
Queria não saber como se forma a estrutura terciária de uma proteína, ou o nome dos tecidos de sustentação vegetal. Queria era poder ouvir sertanejo universitário na balada sexta e não me sentir mal com isso.
Quem sabe não me apaixonar, ser machista e machão, mas mesmo assim me juntar com alguém por inércia quando eu chegar nos 30. Quem sabe frequentar uma Igreja, quem sabe acreditar em Deus sem fazer esforço.

Na real esquece tudo!
Estou subestimando os pobres dos Homens Normais, eles também devem ter suas dores e seus tormentos, anseios e frustrações. Afinal, todo mundo é louco na sua loucura, e só o mais louco dos loucos afirma a si próprio que é normal!





sábado, 3 de maio de 2014

Biologia III

A beleza que vemos na Natureza permite imaginar uma hipótese interessante.
A contemplação da Natureza e alguns outros momentos bem específicos da vida tem um grau de sublimidade que vai além das nossas experiência habituais.
Bom, a hipótese é a seguinte.
E se a beleza que vemos na Natureza for o fascínio que ela tem ao ver ela mesma?
Somos partes integrantes desse sistema, mesmo se negarmos piamente e mesmo se aceitarmos os doze mil de anos de filosofia eurasiana que prega a dicotomia homem/natureza, somos parte dela sim.
E nós somos parte dela.
E ela é parte de nós.
E nós somos a mesma coisa.
E quando eu a vejo ela se vê.
E ela vê o quão bonita ela é.
E eu tenho a sensação de contemplação mais maluca do mundo.

Sei que olhar a extensão do Oceano Atlântico de cima dos rochedos de Imbituba não foi uma experiência pura e simplesmente dos meus olhos, nervos e sinapses. Muito menos admirar diatomáceas num microscópio. Muito menos ver a terra vermelha de Minas e suas colinas. Muito menos ver os campos de cima da cerra com suas araucárias e sua imensidão de terra verde e limpa e infinita. Sei que não era só coisa dos sentidos me abrigar embaixo de uma cachoeira em Maquiné, nem correr nas areias brancas de Florianópolis, muito menos acordar e me perder naqueles olhos azuis-escuros...

A beleza da Natureza vai além do mero sistematismo científico e da percepção fria das coisas.

domingo, 27 de abril de 2014

Coração Ocidental


I

Nada como um dia de toca
Nada como os pés descalços
Nada como um dia de folga
Nada como um café quente
Com o corpo jogado no canto
E a cabeça longe da gente.



II

Caminhando pela cidade
percebo que já era obviedade.
Que eu, mesmo sem pensar,
sou muito ruim em lidar
com essa recém-adquirida Liberdade.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Nomeclatura Rebuscado-Bioquímica Associada ao Ambito Social e Sentimental


Amores fisiológicos
Lealdades anfipáticas
Labores robóticos

Coerções alostéricas
Imposições cáusticas
Verdades elétricas

Ócios sobrenadantes
Comércios infecciosos
Apoptoses constantes

E pra manter a pose
Em nome da ciência
vou deixar a referência:
RIGOTTI, 2014


domingo, 23 de março de 2014

Olhando para trás...

Faziam mais de meses que o rapaz estava de namoro sério com a ex-ficante de um amigo dele. Segundo todas as fontes oficiais, o termino dos dois tinha sido tão abrupto e esquisito quanto o começo do relacionamento. Com o lance rompido, a garota estava livre para viver o amor que quisesse, e encontrou no amigo de seu antigo rapaz a sua alma gêmea. E os dois formavam um dos casais mais felizes da face da Terra.

Um dia os dois amigo se reencontraram. O rapaz encontrou seu amigo sentado quieto e taciturno em um banco na praça, fumando um cigarro barato de papel. Ele já presumiu o que se passava na cabeça do amigo, e não entendeu...  Não faziam meses que eles tinham terminado? Ele já não tinha lhe falado um milhão de vezes de como o relacionamento dos dois era complicado? Porque diabos haveria ele de estar com aquela cara amarrada e aqueles olhos pesaroso?

O amigo olhou para o rapaz e falou:
-Pois é, meu caro... Ontem resolvi parar e olhar pra trás...
-Como assim? -responde o rapaz-
-Sobre tudo, sobre as paradas, sobre a Solidão, essa linda...
-Ainda não saquei...
-Então cara, ontem resolvi parar um pouquinho pra pensar, e cheguei numa conclusão interessante! É meio bad, mas quer ouvir??
-Ah, manda!
-Olha, é até bonito de falar. Cheguei a conclusão de que "estamos sempre sozinhos. E que, na Escuridão, até nossa sombra deixa de nos acompanhar!" Bonito, não??
-Bah, pesado!

Depois do dialogo o rapaz só viu seu amigo dar uma risada breve e uma longa tragada no cigarro. Nisso tudo fez sentido. Ele não sentia falta da garota, ele não estava com ciúme, com inveja ou com algum outro sentimento baixo desses, ele era esclarecido demais pra isso! Ele estava sozinho, pura e simplesmente, ele estava sozinho e sentindo falta do que poderia ter acontecido... E agora ele estava lá, desabafando. Desabafar é bom, sempre. Desabafar sobre a tristeza é como fumar um daqueles cigarros de papel baratos. Você pega o teu desconforto, ateia fogo nele, e aquilo te faz mal enquanto desaparece em fumaça, até sumir por completo e pra sempre!

terça-feira, 11 de março de 2014

Biologia-II


O Sol quente caindo pela janela,
E os mosquitos picando a canela...

O tédio completo alcança níveis excruciantes
E as certezas de agora divergem das de antes

A caminhada é longa
A rotina é uma outra
A comida é pouca
E o vento sopra contra.

Prefiro acreditar na força dos meus braços
E no passar dos dias
Pra fazer brotar vida nestes solos escassos.

A força dos ideais sempre ressurge,
mas é complicado andar descalço na urze
para quem passou vida inteira na urbe.

O homem moderno tem ideias muito erradas de o que é a Natureza. Para o homem urbano é fácil encarar ela com desprezo ou com fascínio, pois é algo abstrato a sua realidade cotidiana. Só digo que é perigoso ver ela como um paraíso na Terra... 

Mas sou um hipócrita ao falar isso...
Por que ainda vejo tudo sob filtros românticos
Vendo equilíbrio e sílfides e cânticos
Onde na verdade só tem mato...
Lá precisa-se perder o tato
os gostos e confortos
a viver como os Espartanos.

Mas não adianta...
Passam-se os dias
Passam-se os anos
E eu continuo russeauniano!