quarta-feira, 28 de maio de 2014

Rubião

III
Isso não vai mudar meus planos
pois só sei amar à moda dos parvos,
dos poetas
e das menininhas de quinze anos.

X
Napoleão III sai do Rio de Janeiro
Invade Minas Gerais
E leva junto com ele um Mundo inteiro.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Cartas secretas para uma amiga anônima

Hoje me deu saudade de ti.
Não só de ti, mas do contexto todo!
Abril foi o mês mais maluco da minha vida, e não por acaso ele começou por aí!
Olhar pra trás e lembrar de tudo, e praticamente não acreditar. Mais de mil quilômetros de estrada, mais de vinte horas de viagem. E lá estava eu, e lá estávamos nós, nos vendo cara a cara depois de mais de dois anos!
E São Paulo é uma loucura! Onde mais eu ia encontrar uma exposição com manuscritos do David Bowie, ou uma aglomeração de gente tão absurda, e uma arquitetura tão maluca (do belo ao extremo brega em menos de umas quadras)?
E quantas epifanias eu não senti nessa cidade que pressentiram acontecimentos futuros vindouros? E as peregrinações de ônibus e metrôs? E ir semi-de-ressaca comer pastel com caldo-de-cana na feira?
Não, não, tudo foi muito louco e muito fantástico.
Tudo está e estará guardado num cantinho muito especial no meu hipocampo.

Ah, e só pra concluir. Lembrando de quanto eramos adolescentes em Maringá, com longos cabelos cacheados e tênis de lona vermelha conversando sobre crises sentimentais no pátio de colégio. Será que esses dois adolescente em algum momento se imaginaram discutindo suas vidas acadêmicas bebendo cerveja num banco de buteco no meio da Augusta? Ai, ai, como é bom quando o script da vida surpreende!

                                                                                         
                                                                                   Com todo o amor do Mundo,
                                                                                   Teu amigo de longa data!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Homem Normal

Tem dias que eu acordo com vontade de ser um homem normal.
Camisa polo de marca, cabelo impecavelmente curto, barba sempre bem feita.
Tem dias que eu acordo com vontade de ser um homem normal. Beber cerveja no final de semana, fazer uma faculdade particular de algum curso como administração, ciências contábeis, relações públicas ou qualquer outras dessas coisas rentáveis que não exigem criatividade.
Tem dias que eu queria ter feito uma cirurgia depois de ter lesionado meu joelho jogando bola, ou de reclamar se o almoço não tinha carne. Vontade de não me preocupar com música, literatura, comportamento, filosofia, política e essas coisas. Vontade de conseguir dizer discursos em favor dos "direitos do cidadão de bem" e criticando o "assistencialismo público" da boca pra fora e na real não dar a menor bola pra isso.
Imagina então dar bola ao preço de uma roupa! De tentar comprar um carro, de tentar comprar perfumes. Sonhar em viver uma vida de jogador de futebol no exterior!
Queria não saber como se forma a estrutura terciária de uma proteína, ou o nome dos tecidos de sustentação vegetal. Queria era poder ouvir sertanejo universitário na balada sexta e não me sentir mal com isso.
Quem sabe não me apaixonar, ser machista e machão, mas mesmo assim me juntar com alguém por inércia quando eu chegar nos 30. Quem sabe frequentar uma Igreja, quem sabe acreditar em Deus sem fazer esforço.

Na real esquece tudo!
Estou subestimando os pobres dos Homens Normais, eles também devem ter suas dores e seus tormentos, anseios e frustrações. Afinal, todo mundo é louco na sua loucura, e só o mais louco dos loucos afirma a si próprio que é normal!





sábado, 3 de maio de 2014

Biologia III

A beleza que vemos na Natureza permite imaginar uma hipótese interessante.
A contemplação da Natureza e alguns outros momentos bem específicos da vida tem um grau de sublimidade que vai além das nossas experiência habituais.
Bom, a hipótese é a seguinte.
E se a beleza que vemos na Natureza for o fascínio que ela tem ao ver ela mesma?
Somos partes integrantes desse sistema, mesmo se negarmos piamente e mesmo se aceitarmos os doze mil de anos de filosofia eurasiana que prega a dicotomia homem/natureza, somos parte dela sim.
E nós somos parte dela.
E ela é parte de nós.
E nós somos a mesma coisa.
E quando eu a vejo ela se vê.
E ela vê o quão bonita ela é.
E eu tenho a sensação de contemplação mais maluca do mundo.

Sei que olhar a extensão do Oceano Atlântico de cima dos rochedos de Imbituba não foi uma experiência pura e simplesmente dos meus olhos, nervos e sinapses. Muito menos admirar diatomáceas num microscópio. Muito menos ver a terra vermelha de Minas e suas colinas. Muito menos ver os campos de cima da cerra com suas araucárias e sua imensidão de terra verde e limpa e infinita. Sei que não era só coisa dos sentidos me abrigar embaixo de uma cachoeira em Maquiné, nem correr nas areias brancas de Florianópolis, muito menos acordar e me perder naqueles olhos azuis-escuros...

A beleza da Natureza vai além do mero sistematismo científico e da percepção fria das coisas.