domingo, 11 de novembro de 2012

O Faquir e o Samurai ou Memórias que Eu Tenho do Japonês Matsunaga No Período em que Ele Ficou em Florianópolis

I- Os dois andavam juntos pela praia do Campeche. Cruzaram toda Florianópolis para isso. Tinham nas costas mochilas e apetrechos para chimarrão. Começando a caminhar pela praia eu comecei a procurar conchas, e ele continuava andando, sempre andando para frente. Numa hora Matsunaga apontou pra dois morros no fundo da praia e falou "A gente vai para lá!!". E lá fomos nós dois. Ele lá, cara forte e resignada de oriental, sem camisa, mostrando o corpo robusto, o olhar obstinado por trás dos óculos mirando fortemente o ponto que devia ser alcançado. Eu lá, os cabelos compridos voando para trás, camisa do Jethro Tull branca, óculos escuros e olhando para baixo, de mochila e chimarrão nas costas, pernas magras, olhando para baixo, procurando conchas. Num momento começamos a perceber que o tal do morro estava longe, muito longe, mas continuamos andando. Aquilo era uma missão, aquilo era uma purificação para nós dois! Caminhar enobrece a alma, ainda mais junto de boa companhia! Um rato-de-praia abordou a gente perguntando se tinhamos isqueiro, a gente não tinha, mas em compensação conseguimos saber com ele o que é que tinha perto dos tais morros, era outra praia!
Ao sabermos da notícia relaxamos. Subimos nas dunas em meio à vegetação acucífoliada e maluca comum de dunas de praia e soltamos a mochila lá, entramos no mar. Entramos naquele mar gelado, aquilo sim era purificação! Um banho de água fria depois de uma longínqua caminhada, que satisfação, que alegria!!! Ao sair da água voltamos pras dunas, tirei uma garrafa de cachaça de dentro da mochila e tomamos uns tragos pra cortar a friagem, também foi montado o Chimarrão Sagrado da Praia que também esquentou nossas vísceras, como é bom ser gaúcho. Arrumamos a mochila, seguimos a caminhada, os morros estavam próximos, jogamos a garrafa no mar em homenagem a algum parente que morreu no mar! Chegamos na outra praia, a praia dos morros, a praia da Joaquina. Subimos parte do morro, assustamos gaivotas e pegamos um ônibus para voltar pro centro da Ilha. O importante é o trajeto e não o objetivo, ainda mais em boa companhia!

II- Os dois estavam sentados na Praça XV depois de caminharem por todo o centro de Florianópolis vendo barcos e mercados de peixe. Matsunaga sentou num dos bancos na frente da figueira e eu fiquei explicando pra ele a história da cidade e o porque dela ter nome de Ditador! Foi um momento bacana de discussão aleatória, falando sobre música, livros, videogames e essas coisas. Daí eis que passa uma garota ruiva, branquela, de saia vermelha florida e linda, linda, linda! Eu e Matsunaga instintivamente seguimos ela com os olhos e, quando percebemos que nós dois estavamos de pescoço torto, e rimos muito da situação. No meio da risada Matsunaga olhou pra baixo e falou, segurando o riso: "Saudades da namorada que eu não tenho!"

III- Faltava um dia pra Matsunaga voltar pra Terra dos Pé Vermelho e nós dois estavamos no quarto jogando videogame e lendo textos um do outro. Pergunto pra ele o que ele achava da minha ultima postagem. Ele disse: "Tá bem escrita, mas eu não gostei". Ele gostou, no fundo no fundo ele gostou. Acho que ele não gostou de ver eu me destruindo daquela maneira em cada postagem, em cada texto.
Passados dois dias da volta dele para sua triste cidade, interpretei uma coisa! Interpretei que: "Meu blog é um ciclo finito e destrutivo de auto-depreciação e auto-piedade!"

(MatsunagaBoy, meu caro, perdões por ter imitado teu modo de escrever nesse texto!)

(Post Escriptvn: Segundo informações do próprio Lucas Matsunaga, andamos aproximadamente 8,2 quilometros entre as praias do Campeche e Joaquina)

Um comentário:

  1. A saudade de que me dá de coisas que eu nem vivi, a saudade desses meninos que eu nem conheço de verdade... A vontade louca de caminhar pela praia com vocês, beber, nadar, rir, falar sobre música, cinema, poesia. Mais ouvir, do que falar. Uma vontade de vocês, de praia, de férias, de amigos... Uma vontade de viver dentro dessa literatura.

    ResponderExcluir