sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A Concha, a Carne e o Ego




Ela me amou
como que amasse uma estátua.
Estável estrutura de adoração
definhando alta no Céu.

Ele me amou
como quem corre descalço
lépido e áspero no asfalto quente
e eu nem ofereci um copo d'água.

Ela me amou
e me largou
e eu quis mais
e eu acordei.

Ele me amou
mas menos
bem menos
do que eu me amo.

Eu controlei cada detalhe
cada dado bruto e bobo

Eu explodi internamente
mas por fora, intacto.

Eu resolvi tirar umas férias
e me chamei pra jantar
bater um rango, tomar uma cerva, curtir um som.
Até que Eu era uma companhia bacana
mas na verdade era um escroto
um canalha de marca maior.

Ele só respirava
porque queria fazer
que os outros não respirassem
se Eu não estivesse junto.

Ele me amou como uma estátua
caída no asfalto quente
derrubada por sonhadores enfurecidos,
e sem o mínimo amor próprio.

O maior louco é aquele que diz que não é louco
E o maior egoísta é aquele que diz que não é egoísta.


domingo, 17 de janeiro de 2016

O Homem do Aquário



Alguém um dia disse
que são três segundos
a vida da memória dele.

Pálido palácio mnemótico
perfeito na prata e do mármore
do esfarelamento anemocórico

Flutua livre no vidro cúbico
afogado perdido em apneia
decantando no mal súbito

Eu sou Jonas e a Baleia
Sou a Segundo Avatar de Vishnu
Sou a Cabeça de São João Batista

Sou o Homem do Aquário,
favor não bater no vidro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Gênese e Apocalipse



De pouco me interessa o Verbo
(vil vento das Verdades),
o eu quero são as Palavras.

Não quero nada pétreo, pífio
parado, parido ou perfeito.
Somente o leve leito das Palavras

Quero palavras com pétalas
palavras com sépalas
palavras com tépalas
que não são uma coisa nem outra
nem as duas ao mesmo tempo.

Quero que tudo trema
e trinque e tranque e troque
o trágico todo pelas Palavras.

Quero mera mediocridade
da miraculosa mãe da Morte
que nos enche de Palavras.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Um Homem Melhor



Deus queira o Inferno.
Deus queira o Inferno aos que não aprendem.
O Inferno pertence às pedras,
Às almas de pedras,
aos homens de pedra,
às placas tectônicas de ideias.

Deus queira o Inferno
a todas as ideia nocivas 
e seus reprodutores.
Ao Inferno as ideias lascivas
de vício e vicissitude e tolerância

Deus mande ao Inferno minha ânsia.

Mande ao Inferno minha ânsia
meu desespero e ganância.
Minha inveja e cobiça e intolerância.

Deus queira que eu seja um homem melhor.

Nas medidas em que um homem pode ser melhor.

Nenhum homem jamais será melhor.

Nenhum homem foi criado pra ser bom.

Mas tenho fé eu.
Tenho fé eu que o aprendizado é eterno
Que o Sutra do Diamante
no fundo no fundo
é uma Surra de Dinamite
no centro das ideias externas impostas.

O Mundo é mal e é ruim.
E somos parte desse veneno.
O Mundo tem começo e fim.
Lavo meu rosto com benzeno.

O Mundo é belo e louco
E eu sou parte deste Sol.
Que eu melhore de pouco eu pouco
que eu seja alguém melhor que já sou.

E sabe lá o que Deus quer
Não me interessa Deus e seus medos
Não me interessa o que Deus ser
Só quero demolir a base dos meus erros.

Queira eu que eu durma
acorde
trabalhe
aprenda
viva
respire
ame
cresça
coma
beba
viaje
veja
sinta
toque
cure.

Queira eu em minha lápide
A bela estátua
de uma caveira
coroada com a coroa do Universo.

Queira que eu morra velho
mas bem velho,
Mas bem velho mesmo.
Com duzentos anos
trezentos anos
dois mil anos.

Que eu não morra antes de ser um homem melhor
Nas medidas que um homem pode ser...

sábado, 26 de setembro de 2015

A Seção Maldita




Aumente as distorções,
corte os cabos e queime as pontes
essa é a seção maldita,
a que começa depois da meia-noite.

Chame a verve de todos os medos,
os fungos cobrem os corpos
o sangue escorre dos ferimentos
o vento frio é um açoite.
Essa é a seção maldita
que começa depois da meia-noite.

Teus gritos não serão ouvidos
E os dentes criam as cicatrizes
no coração dos atores e atrizes
Teu golpes não serão sentidos.
Pois já passo da meia-noite
e esta é a seção maldita.

O véu negro da noite dos vermes
A alma branca do eterno dos ossos
Idolatre as estatuas inertes
e as estrelas e buracos negros.
Hoje é Lua Cheia à meia-noite
e esta é a seção maldita.

E deixam de soar os tambores
e tudo volta de leve ao normal.
Isso é a ilusão dos teus temores
Que venha o coro virginal
das ideias puras do fundo da alma
que retomam a vida e a calma.

Nada era real e nada era mentira
Acaba o som, ascende a luz.
Passou da meia-noite
e está acaba a seção maldita.


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Teu Outro



Sempre há uma janela
um fundo de cama
uma fresta de porta
uma saída à sorrelfa.

Não me importo nem um pouco
em ser o teu segundo homem.
O teu Outro que vem e some
que te ama e segue a viagem.

Teu homem não é nada pro teu todo,
não mais que uma sombra de ontem.
E eu não sou mais que uns quilos de carne,
um nome, e um coração selvagem.

E esse coração selvagem rasga
e dilacera os pulmões e as costelas
ardendo de sanha e fúria
rugindo a força das eras
e ansiando a eternidade que sempre passa.

Não te peço dê opinião alguma
e nem que dê ouvidos a mim, em suma.
Siga com teu homem, ele é a segurança
o leito oceânico que segura a tua âncora.

Só não te apequene, e se lembre
de aceitar o desafio da vida.
Tu ama e anseia a liberdade
e homem algum será teu guia.

Sou teu Outro, e sigo assim sendo
pois te amo não me arrependo.

Abra as asas, aceite o mundo
e se aceite por amar outro homem
e saiba que isso não é insensatez,
pois a gente sempre espera na vida
que alguém venha
e foda tudo de uma vez.



terça-feira, 11 de agosto de 2015

Onze E Pouco Da Manhã



                ----Para J.D.A.-----

O que eu chamo de amor pode
não ser o que os outros chamam.

O amor sempre se manifestou como algo
de narcótico
de erótico
de colérico
de quimérico
de dramático.

Suba ao palco
interprete o ático
e seja a protagonista da minha vida.