domingo, 4 de novembro de 2012

O Olho Roxo

O velho e barbudo Lord Darwin, depois de cruzar o mundo de carona em um navio, elaborou uma teoria interessante. Essa teoria diz que os seres vivos mais úteis pra espécie sobrevivem, enquanto os menos aptos estão condenados a uma vida de danação e possível extinção.

Certa manhã me olhei no espelho e um olho roxo. Um hematoma muito aparente embaixo no meu olho esquerdo. Não foi consequência de briga, de explosão de raiva ou qualquer coisa do gênero. O hematoma foi decorrente da mais pura babaquisse. Na noite anterior estava tentando tirar uma musica no baixo, levantei ele para tirar do colo e bati com ele na minha cara. Babaquisse pura, eu sendo único culpado pelo fato ocorrido.
Demanhã eu semi-acordado olhei pra minha cara. Estou magro, sempre fui magro. Barba rala de moleque mal-crescida, cabelo comprido e desgranhado. Acordei fedendo, com bafo e com aquele PUTA olho roxo!

Eis que anos e anos inclinações niilistas e de conhecimentos de biologia me fizeram lembrar de duas teorias interessantes. Uma, escrita por um lorde inglês barbudo rico e metido a viajante falava que as espécies se desenvolvem porque os mais aptos sobrevivem. Outra, escrita por um alemão topetudo e bigodudo todo zoado que morreu virgem falava que nem sempre os indivíduos mais uteis pra sociedade eram os mais uteis pra espécie. O maluco da Alemanha falava que as pessoas mais explosivas, mais impulsivas e mais retardadas eram as que tinham mais filhos e, por isso, eram a coisa mais útil para a espécie.

Ser bestão é o que gera a felicidade. Essa foi a máxima que eu tirei.

Eis que me lembro da minha condição. Eis que me lembro que eu só como, durmo, leio e estudo. Eis que eu me lembro que eu não tenho namorada. Eis que eu me lembro que eu não tenho caso nenhum. Eis que me lembro que eu não trabalho nem tenho meu dinheiro nem tomo muitas decisões verdadeiramente importantes por conta própria! Eis que me lembro que eu idealizo tudo! Eis que me lembro que vivo de imaginar!!
Lembrei que eu sou inútil pra espécie.

Aí o lorde inglês barbudo vem no meu ouvido e fala: "A Natureza seleciona os mais aptos!". Olho no espelho. Lembro das costelas, do fedor, da barba feia, dos cabelos, do olho roxo. O olho roxo!! Eu me machuco sem perceber. É a vingança da biologia! Eu me machuco sozinho por ser inútil pra espécie! Eu sou niilista por ser inútil pra espécie. Eu idealizo o amor e o sexo por ser inútil pra espécie!

Mas estou bem, estou bem. O mundo já tem 7 bilhões de pessoas pra realizar a manutenção dos genes. A mim nada custa ficar de boa, respirar fundo e seguir a vida. Ouvir Arcade Fire, escrever, idealizar amores e sofrer por eles. Prefiro ser inútil pra espécie do que negar aquilo que eu acho certo.
Apesar de ganhar hematomas no processo...

 



Um comentário:

  1. Somos inúteis juntos, meu amigo. De útil (ou quase isso) deixo apenas minha literatura, ignorando o fato do mundo já estar saturado dela.

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