domingo, 5 de julho de 2015

Nosso Amor Para Ser Admirado




O amor do taxidermista
consiste em pegar
o que já está morto
e dar forma, e jeito e imagem
em um trabalho lógico e criativo
para fazer com que o cadáver
ainda pareça vivo.

O taxidermista usa química
usa proficiência
usa paciência.
Ignora o odor e a aparência
e tece sua indolor ciência.
Doando sua vida de bicho vivo
para sua obra, no bicho morto.

Cada qual com seus heróis
o bom taxidermista não recria
pura e simplesmente a morfologia.
O bom mesmo é aquele
que recria cenas, bandos
caçadas, famílias, flertes.
Aquele que imagina vida além do corpo.

E existe no mundo gente
que ama como o taxidermista.
Quer o amor morto, mas vivo.
Quer o amor estático no canto
do museu das memórias.
Imitando o que ele foi
e o que ele não foi.

Ama como quem ama uma fotografia
como que analisa uma imagem
uma obra de arte inerte.
Que desejam morto o bicho vivo dentro do peito,
para que ele esteja lá sempre
belo, perfeito, quimicamente tratado,
pronto para ser eternamente admirado.

Provavelmente todos nós
amamos como o taxidermista.














Nenhum comentário:

Postar um comentário