quarta-feira, 15 de abril de 2015

Saguão de Embarque



Cada avião decolando
leva consigo mais beleza
que toda a biblioteca do Congresso Americano,
que todas as galerias do museu do Louvre,
e que todo o acervo de discos da Third Man Records,
juntos.

Não sou cínico a ponto de falar
que essa beleza reside nos mecanismos,
nos motores, nos compressores,
na fuselagem e controles.
No mais o avião é só uma lata de sardinha sofisticada
voando a 20.000 poucos mil pés de altitude.

A beleza dele reside escondida e escancarada.
É a mesma beleza das ruas,
dos ônibus, dos trens e casas.
É a beleza que reside nos rostos cansados
de cada um dos passageiros, de cada pessoa individualmente,
lutando solitária contra sua própria corja de demônios.

Cada avião decolando
carrega consigo dezenas de romances e novelas,
e algumas centenas e contos e poemas.
E algumas músicas e gravuras esparsas, no mínimo.
Toda beleza pode sim ser inumana,
mas somente o que é humano é capaz de apreciar a beleza.

O avião pousa. Um velho gordo e grisalho desce
pega a mala e senta no McCafé
e compra o que tem vontade sem pensar no preço.
O velho embarcou trabalhando, trabalhou no voo
e agora está sentado no McCafé do aeroporto trabalhando.
O café esfria na velocidade em que ele escreve no laptop.

O café vai ficando cada vez mais frio.
O café de todo mundo está esfriando.
E quem não vê beleza no café esfriando
está fadado a não ver beleza em lugar nenhum.



Nenhum comentário:

Postar um comentário