Desisti, essa é a palavra. Sangue de barata. Ratos, baratas, urubus e outros zoomorfismos da ideia de covardia. Pela falta de coragem o urubu come carniça, já diriam os velhos!
Um ano de solidão. Vivi a embriaguez daninha e o sonho de febre, provações ridículas para alguém normal, mas pesadíssimas para um guri de ensino médio. E eu te conheci depois da estrada!
Um ano sem urbes amadas. Volto para Curitiba num feriado pra relembrar os velhos tempos. E te conheci...
Voltei pro meu exílio, meu desterro, com tu na memória! Como num filme ruim, mantive contato contigo, e tudo parecia ser promissor! Sonho de febre! Por duas semanas, hoje desisti...
Neste exílios atenuados criei uma ideia errada. Larguei mão dos amores vãos. Não pergunte a mim sobre histórias de amor, é inócuo, improfícuo em suma, não sou capaz de amar mulher alguma e provavelmente não há mulher capaz de amar-me, Augusto dos Anjos falou alguma coisa desse gênero... Achei que a soedade me traria sobriedade, não trouxe. Mas me acostumei com essa ideia, fiquei relativamente confortável. Só um motivo me faria sair dessa zona de conforto maluca...
Em horas de pira criei uma imagem mental. Uma guria inteligentíssima, uma paisagem de inverno curitibana. Ela era sossegada, leve, sem pressões malucas e protecionistas de um relacionamento-padrão, só a presença e a companhia bastaria. Estaríamos nós dois sentados (Praça do Japão, provavelmente) falando sobre arte, desenhos, música. Fleet Foxes!!
Daí te encontrei, e vi em ti a personificação dessa imagem. Leve, doce, simpatiquíssima. Nossos planos rimavam, rima rica ainda! Ai, que erro. Me vi preso de novo em musas laureadas e platonismos adolescentes... A guria sutil-artista-que-escuta-Fleet-Foxes...
Mas o inesperado! Um amigo meu te ama! Daí me vi numa competição. Me senti mal por isso, profundamente mal. Odiaria entrar numa justa pela mão de uma donzela (exemplo ridículo)... Ainda mais se essa justa for com um grande amigo meu...
A guria que escutaria Fleet Foxes comigo num dia frio não existe. A guria que dividiria o apartamento poleiro-urbano comigo não existe. A namorada não-psicótica e não-ciumenta
Desisti, esse é o ponto. Não vai ser de um dia pro outro que o Urubu vai virar Leão! Mais fácil seguir minha vida quieto... Tou em outra cidade mesmo... Ver os dois felizes juntos vai ser bom... Vou ficar feliz com ela feliz... Assim eu não atrapalho ninguém... Isso tudo são mentiras, mas acalmam meu coração.
Colocar uma razão moral, assim pareço até um asceta... Buscar purificação pela dor! Tou cuspindo na cara do Nitchê mesmo! Essa é a situação mesmo...
O Urubu continua sentado no poleiro vendo a vida dos outros acontecer. Quando se sente sozinho, o Urubu desce pra gritar no ouvido de alguém. O Urubu nunca vai ser Leão!
En temps de guerre est le vautour de poulet...
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